Marcos Valério deu origem ao mensalão ao repassar verba de contratos de publicidade
Pressionado, Arruda anunciou a saída do DEM e disse que não concorre em 2010
O governo do Distrito Federal abasteceu nos últimos três anos, sem licitação, com pelo menos R$ 14,4 milhões, uma produtora que fez programas para o diretório do DEM em Brasília e cuidou da campanha do governador José Roberto Arruda (sem partido) em 2006. A forma de pagamento se assemelha ao esquema conhecido como "valerioduto", no qual empresas-mãe com grandes contratos com o governo repassavam dinheiro a integrantes do grupo político mediante subcontratações.
O dinheiro cai primeiro na conta das empresas contratadas oficialmente para cuidar da publicidade do DF. Depois, é transferido para a AB Produções, do empresário Abdon Bucar. Esse repasse não aparece nas notas de empenho. Surge apenas em ordens bancárias, que chegam a ultrapassar R$ 200 mil por serviço prestado.
Procurado pela reportagem, Weligton Moraes, assessor de Comunicação do governo do DF, disse que o critério é técnico e que não há orientação para as empresas de publicidade contratarem a AB Produções. Na quinta-feira, a reportagem esteve na sede da AB Produções. A secretária informou que Abdon Bucar não estava no local. Um e-mail foi enviado ao empresário, que não deu resposta.
Arruda é acusado pelo Ministério Público de comandar o "mensalão do DEM", suposto esquema de pagamento de mesadas a políticos aliados e de captação de propina com empresas fornecedoras do governo local.
Num encontro em 2006 com Durval Barbosa, ex-secretário de Relações Institucionais de Arruda, Bucar admite que fez acordo para receber por caixa dois na campanha. Na conversa, gravada em vídeo por Barbosa, o dono da AB Produções reclama de um contrato não honrado de R$ 750 mil "com o PFL" - nome antigo do DEM - e de R$ 1 milhão que teria caído em sua conta sem explicação. Chega a falar em "esquentar" nota fiscal, expressão usada para "legalizar" dinheiro não declarado.
Na última quinta-feira, Arruda não aguentou a pressão e anunciou a sua desfiliação do DEM. A decisão foi anunciada um dia antes de a Executiva do partido decidir sua expulsão. O governador do DF disse ainda que pretende terminar seu mandato e que não vai concorrer nas eleições de 2010.
A operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal, deflagrada no último dia 27, apreendeu mais de R$ 700 mil nas casas e gabinetes dos políticos envolvidos, incluindo um anexo da residência oficial do governador. Ao todo, a operação cumpriu 16 mandados de busca e apreensão expedidos pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça).
Segundo o inquérito da PF – que investiga os crimes de formação de quadrilha, crime eleitoral e corrupção -, o dinheiro vinha ilegalmente de empresas que têm contratos com o governo. Em troca dos pagamentos, elas conseguiriam facilidades em licitações.